terça-feira, junho 19, 2007

O Super-Emplastro

Portugal tem um (pelo menos) super-herói. A América que se cuide. Não há Batman ou Super-Homem capaz de rivalizar com o Super-Emplastro.

Todos conhecemos o Emplastro, aquele portuense que tem o fascínio de aparecer na televisão. Possivelmente tem um álbum (ou uma cassete vídeo) onde guarda as suas aparições. O Pinto na Costa é entrevistado na rua, ele coloca-se atrás. Há uma reportagem em Fátima, lá está ele nas costas da jornalista.
A sua vida é a colecção destes momentos de glória.

A vida política do Durão Barroso também. O que ele guarda não são acções, não são ideias, não são lutas por ideais. O que ele recorda são os momentos em que apareceu na fotografia com os poderosos. Seja na cimeira dos Açores onde foi anunciada a Guerra do Iraque ou no casamento da filha do José Eduardo dos Santos.
Levantam-se (mas não andam) as seguintes questões:
O Durão Barroso é cúmplice de se ter iniciado uma guerra baseada numa mentira?
É cúmplice de uma família corrupta, possuidora de uma das maiores fortunas mundiais enquanto o povo de Angola vive na miséria?

Não. O Emplastro também não é cúmplice de eventuais subornos e contratos para matar perpetrados por Pinto da Costa.
É apenas o palhaço que quer ter os seus 15 minutos de fama.

É justo dizer que Durão Barroso tem mais sucesso a coleccionar fotografias com pessoas importantes que o Emplastro portuense. Durão Barroso é o verdadeiro Super-Emplastro.

terça-feira, junho 12, 2007

A questão essencial

Sempre admirei o brilhantismo da argumentação do Pacheco Pereira. Eis um diálogo perfeitamente possível entre alguém e ele:

Alguém - O Bush, apesar do aquecimento global, continua a recusar aderir ao protocolo de Quioto.
Pacheco Pereira - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.
A - A guerra no Iraque foi baseada numa mentira.
PP - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.
A - A administração americana defende e ordena a prática de tortura, afirmando que as Convenções de Genebra que asseguram direitos básicos aos prisioneiros estão desactualizadas.
PP - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.
A - Os Estados Unidos prendem e isolam pessoas do mundo, sem qualquer acusação, julgamento ou possibilidade de defesa, durante anos.
PP - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.
A - Os Estados Unidos ficam na América do Norte.
PP - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.
A - Ontem comi demasiado esparguete e hoje não me estou a sentir bem.
PP - Isso não é a questão essencial. Isso é anti-americanismo primário.

Estou perfeitamente rendido à multiplicidade argumentativa de Pacheco Pereira e ao contra-ponto imaginativo e incisivo que ele faz a cada afirmação de que discorda. No entanto, devido à excelência e complexidade da rede de ideias que tece, reconheço, por minha manifesta incapacidade, que por vezes há pontos que transcendem a minha compreensão.
Por exemplo, nunca tinha conseguido descortinar qual será a questão essencial. Até hoje.
No seu blog, sobre a ameaça de Putin de apontar misseis à Europa, Pacheco Pereira escreve:
"(...) significa que mais uma vez a tronitruância anti-americana da Europa esconde que esta é protegida pela sombra termonuclear dos EUA, que, como se sabe, é um país criminoso presidido por um imbecil, que todo o europeu politicamente correcto despreza no íntimo do seu ser."
Resumindo, a questão essencial é que qualquer crítica aos Estados Unidos e ao seu Presidente é uma ofensa primária, porque é morder a mão que nos protege.

No entanto, este texto levantou uma dúvida porventura maior e mais essencial que a questão essencial que clarificou: qual o significado da palavra "tronitruância"?